Monday, May 19, 2008

Memorável revira volta







Memorável revira volta

Por Danilo Correia

Maputo, 18 de Maio de 2008

A Fénix é um pássaro da mitologia grega que quando morre entra em auto-combustão e passado algum tempo renasce das próprias cinzas. Foi nesse espírito que numa gloriosa manhã de domingo nas areias da praia da Costa do Sol, a equipa dos Kotas deram a volta ao jogo contra uma equipa de Putos determinados a ganhar a taça do Clube Recreativo Maré Vazia.

O jogo teve lugar na manhã de domingo, 18 de Maio de 2008, em campo desenhado pelo suave bater das ondas da formosa baía de Maputo que elegantemente oferecia uma brisa fresca e sol brilhante, neste palco defrontaram-se a formação dos Kotas versus a formação dos miúdos, o pontapé de saída estava previsto para as 9:30, mas como manda a tradição este ficou atrasado por 1 hora e 20 minutos. Desta vez houve explicação pelo atraso (sempre há...), os Putos foram os primeiros a chegarem, os Kotas iam chegando num vagar familiar e, uns não vinham há 20 anos, outros curtiam o momento e matavam as saudades, a maioria dos Kotas aquecia os músculos intropecidos pela paragem longa mas apesar de “enferrujados” carregam muitos quilómetros de futebol de praia.

Feitas as equipas, onde pelos Putos alinharam; Shéu, Saranga, Rúben, Djo(Capt), Bruno, Galito, Rui Veiga, Ricardo e Ribery,Litos e Futura

Pelos Kotas alinharam; Patel, Chacon(Filho e mais tarde por Liacat), Veloso(Manuel), Baninho, Tajú (Nima), Luis Santos, Danilo, Neves Correia, Tchetcho, Sulemane Latifo, Xixa e Chico Pereira(Capt), Chico Carrilho.

A maré era ideal para a prática do futebol de praia e o bom tempo dava mais alegria ao jogo. Depois das tradicionais e inevitáveis discussões sobre o número de jogadores, colocação das balizas, escolha da bola de jogo, marcação das linhas, definição do tempo de jogo e sessão de fotografia que a ocasião exigia.

Pelas 10:50 partida teve inicio e logo percebeu-se que a forma física dos Kotas não era das melhores e que os Putos estavam determinados a dar tudo para vencer o tão esperado embate. Os Putos circulavam a bola e faziam as suas investidas a baliza dos Kotas através de lances rápidos pelas alas, os Kotas limitavam-se a defender a zona, conglomerados na grande área a jogar no erro do adversário, os jogadores mais adiantados iam acostumando-se a ter a bola no pé, falhando alguns passes, foi visível a fome de bola de alguns e a ansiedade de outros, mas era evidente que os Kotas não esqueceram como se trata a bola de futebol. Mas o meio campo era dominado pelos irreverentes Putos e os Kotas sentiam a falta de bola e rapidamente a paciência começou esgotar e já se ouviam os familiares berros a mandar parar de lançar os pontas de lança Luis Santos, Veloso e Neves que apesar da falta de velocidade deslocavam-se correctamente para os espaços, os Kotas pediam que jogassem de pé para pé. Mas o ritmo dos Putos era demasiado alto para a defesa dos Kotas e foi sem surpresa que os Putos fizeram o 1-0 através de uma jogada de Bruno que com o pé esquerdo despacho da frente 2 Kotas e desferiu um remate seco e forte e indefensável para Patel que não teve hipótese de defesa.

No reatar do jogo os Kotas começaram a controlar melhor o esférico e Chacon teve que sair lesionado depois de estirar um músculo, este imediatamente fez-se substituir pelo seu filho e o lado direito da defesa dos Kotas ficou mais frágil, foi pelo mesmo lado que que o imparável Bruno entrou e desferiu mais um remate de pé esquerdo que passou entre Patel e o primeiro poste aumentando a vantagem para 2-0 a favor dos Putos. O filho do Chacon foi substituído e deu lugar ao Liacat que apesar de lesionado deu o seu valioso contributo a defesa e trouxe mais estabilidade ao sector mais recuado. Os Kotas nunca desanimaram e continuaram atrás do golo, numa jogada pela esquerda Neves cruza atrasado para Tchetcho que com o pé direito remata ao poste esquerdo de Shéu, estava dado o aviso de que os Kotas não desistiam da batalha. O primeiro golo dos Kotas aparece depois de um arranque de Neves pelo meio aproveitando um erro do adversário o que permitiu que Neves se encontrasse em frente ao guarda-redes adversário, Neves ensaiou várias simulações e tentou passar a bola por cima do guarda-redes que efectuou uma grande defesa mas enviou o esférico para os pés de Baninho que entrando pela direita grande estilo reduziu o placar para 2-1.

A esperança renovava-se para os Kotas mas a velocidade dos Putos continuava a ser um quebra-cabeças a defesa dos Kotas que viram um cruzamento rasteiro de Bruno parar nos pés de Ribery que só teve que encostar e fazer o 3-1. Desenhava-se um cenário de derrota para os Kotas, a desvantagem era demolidora e desmoralizadora mas os Kotas nunca baixaram os braços e foram atrás do 3-2 que surge de remate forte de primeira de Danilo que ao apanhar um ressalto fuzilou a baliza do adversário. Este golo foi a polémica do jogo, o golo foi contestado pelo facto de a bola ao entrar na baliza tocar no fio da mesma, mas por insistência o golo foi validado pelo facto da baliza estar mais baixa do que o habitual e o fio em situação precária.

O 3-2 trouxe mais esperança aos Kotas que apareciam cada vez mais no jogo pelas jogadas de Tchetcho, os remates de Latifo, as incursões de Baninho e as desmarcações de Luis Santos para as alas, toques subtis de Neves, recuperações de bola de Danilo e cortes de Xixa e Chico Pereira, os Kotas jogavam melhor. Foi de uma recuperação de bola a meio campo que Danilo faz o passe para Baninho que ao ver Neves desmarcado em frente ao guarda-redes endossa o esférico que Neves num toque de calcanhar majestoso desvia a redondinha para dentro da baliza e faz o golo do jogo trazendo o resultado para 3-3. Os Putos certamente desapontados voltam a carregar o acelerador, Manuel veio substituir o eterno Veloso que cumpriu presença e mostrou que a idade não passa de número, com a entrada de Manuel o meio campo dos Kotas ganhou mais pulmão para aguentar as incursões dos Putos, o que permitia que os Kotas continuassem a passear a sua indiscutível classe que foi notória em vários lances do jogo. Ora demonstrando classe nos cortes, ora mostrando como se remata a baliza com o pé ou com a cabeça, não fosse a grande exibição de Shéu os Putos poderia sair dali com uma goleada. Foi usando a cabeça que surge o golo da vitória dos Kotas, Latifo entra ao segundo poste cabeceia para golo um cruzamento telecomandado efectuado pela esquerda por Tchetcho. Estava feito o 3-4 e consumada uma memorável revira volta, a Fénix renascia das cinzas, e desta vez foi nas areias da praia da Costa do Sol a beira da sombra dos imponentes pinheiros que mais uma vez testemunharam um grande jogo de futebol de praia. A maré enchia e o campo estreitava-se, às 12:10 o jogo terminava e os atletas trocavam cumprimentos enquanto dirigiam-se a muralha da marginal para refrescar as gargantas e conviver numa verdadeira amizade sobre a areia.

1 comment:

Venus de Melo+ said...

Danilo, parabéns pelas palavras.
Não te sabia tão inspirado e dotado. Soubeste descrever um momento desportivo artisticamente.
Parabéns.